Satanás, humilhado por sua ignorância em corrupção
política, no inferno chamada de SUPERMAL, e em administração de
penitenciárias, quis fazer um doutorado
no Brasil, o país mais caótico do mundo nessas matérias, mas à entrada de uma
penitenciária recuou, de pavor. Viu-se
em perigo.
Teria que se disfarçar para poder assistir,
a salvo, os incríveis espetáculos dos presídios e penitenciárias do Brasil,
rivais midiáticos dos espetáculos humorísticos da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal. Foi o que fez. E no Congresso Nacional foi a felicidade, porque
ele tanto ouvia o que os políticos diziam da boca para fora, como lia o que
arquitetavam dentro daqueles cérebros geniais.
As simulações e dissimulações daquela turma
não iludiam Satanás, e ele ria até a convulsão, assistindo as sessões do
Congresso Nacional. Mas não ouvia os discursos das tribunas. Ouvia o que, ao pé
dos ouvidos, conversavam Suas Excelências, confidencialmente, hábito dos
honoráveis peagadês em maldades sub-reptícias, que poriam no chinelo os diabos
do primeiro ao quinto escalão do inferno. Satanás caía em êxtase, diante
daquele insuperável espetáculo:
- Não, não! Eles querem me matar –
exclamava Satanás, gargalhando com espasmos de cachorro atropelado.
Segundo advertências psicografadas
diretamente do inferno, feitas por demonólatras e satanólogos além-túmulo,
Satanás ia invadir o Brasil, para conhecer o país responsável pela superlotação
dos seus domínios e, humildemente, aprender o SUPERMAL, praticado por aqui com
inigualável eficiência.
Veio ao Brasil disfarçado de padre, com o
que evitaria os perigos do seu aprendizado: padre Demócrito dos Santos,
angelical, doce de enjoar, simpático ao extremo.
Às vezes se apresentava como Monsenhor:
Monsenhor Demóstenes Cristóvão, circunspecto, tão mergulhado em orações que era
quase inacessível.
Ou,
para se divertir satanicamente, até como embaixador da Santa Sé: Comendatori Demófilus
Sanctorum, solene ao extremo, impecável no cumprir as formalidades
diplomáticas, irrepreensível na elegância dos gestos e salamaleques da
diplomacia, sobretudo no beijar as mãos das mulheres e fazê-las sentirem-se belas,
inteligentes e irresistíveis.
Todos angelicais, sem aqueles cavanhaques
mefistofélicos e com os chifres aparados. Olhava-se ao espelho, de batina, e
ria que ria. Mas discretamente, para não provocar a ira do Paizão lá de cima.
Quando descobriu o Brasil era um neófito em
SUPERMAL, e jamais imaginara o quanto se divertiria, conhecendo o país mais
intimamente, com o seu surrealismo e as suas idiossincrasias.
Entrando para orar numa penitenciária do
Norte, após uma rebelião com 28 mortes por decapitação, concentrou-se
interessadíssimo numa disputa de embaixadinhas entre reclusos de duas facções.
- Trinta... trinta e uma... trinta e duas...
- Contavam em uníssono centenas de presos, no pátio da penitenciária.
As bolas eram as cabeças dos decapitados,
petrificadas em caretas horrendas. Olhos arregalados, bocas engraçadíssimas.
Satanás foi ao delírio. O vencedor fez mais
de cem embaixadas, e foi aplaudido em todas as celas, com um estardalhaço de dez
Maracanãs. Pertencia à facção TJMG ( TAMO JUNTO MINAS GERAIS ), principal
adversária da TJRJ ( TAMO JUNTO RIO DE JANEIRO ), só suplantada pela TJSP (
TAMO JUNTO SÃO PAULO ).
Satanás ousou, então, fazer um périplo
pelas assembleias e câmaras municipais de todo o país. Saiu duma Câmara
Municipal do Nordeste em êxtase. Não acreditava no que descobriu dos
vereadores, telepaticamente. Quase entrou em coma, de tanto rir.
- Não é possível! Estou sonhando! – gritou
ele, na sua batina de Monsenhor. Monsenhor Beatínio da Cruz. Nunca se sentiu
tão feliz e realizado.
- Nada a acrescentar a esse povo admirável –
ponderou com um paternal orgulho, depois de visitar as assembleias e câmaras de
vereadores do Norte e Nordeste.
- Os
brasileiros não precisam de inferno! – Exclamou.
E Satanás se apaixonou perdidamente pelo
Brasil.
Zaidan Baracat escreve crônicas desde a década de 70. Advogado e proprietário do Hotel das Nações na cidade de Carmo de Minas-MG, o escritor também lançou um blog, onde disponibiliza crônicas antigas e de muito sucesso, mas também as crônicas inéditas com temas da atualidade.
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Da Redação do Popular.net