Durante 90 minutos, 28 pessoas jantaram de olhos vendados, foram
servidos e assistidos pelos profissionais da instituição
Você está lendo estas palavras nesse momento. Já imaginou se de repente
você parasse de enxergar esse texto? Assim foi o Jantar às Escuras da
segunda Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) criada no
Brasil, realizado na quinta-feira, 25, de agosto.
Convidados tiveram a mesma sensação de uma pessoa com deficiência visual / Fotos: APAE
Ao todo 28 participantes atuantes em diversos segmentos profissionais de
São Lourenço foram convidados para o jantar. Ao chegarem na instituição
tiveram os olhos vendados durante 90 minutos, tempo que durou a
refeição. O objetivo da ação foi fazer com que os convidados tivessem a
mesma sensação de uma Pessoa com Deficiência Visual.
As pessoas não puderam ver a comida que estavam consumindo e não tiveram
a oportunidade de escolher o lugar que ocuparam na mesa. Durante todo o
tempo foram conduzidas e servidas pelos profissionais que atuam na
instituição.
As vendas foram retiradas somente após a sobremesa, quando
todos acabaram de fazer a refeição.
De acordo com a pedagoga Elisa Nogueira, que é mãe de uma Pessoa com
Deficiência, o momento serviu para valorizar ainda mais os sentidos.
“Nesse jantar pude sentir o que é ser vulnerável. O que é estar sob os
cuidados de outras pessoas. Sabia que estava sob os cuidados das pessoas
que cuidam da minha filha, mas me senti vulnerável desde o momento que
fui privada da minha visão”, afirmou Elisa Nogueira.
O professor Carlos Roberto Rodrigues destacou a confiança. “Além da
vulnerabilidade, tivemos que confiar nas pessoas que estavam nos
servindo. Fiquei o tempo todo me imaginado nessa situação no dia a dia.
Nunca vivi uma experiência como essa”, disse o professor. Ele é pai de
uma menina com Síndrome de Down e trabalhou com três alunos com
deficiência auditiva, dois visuais e um cadeirante.
O jantar é uma das ações da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência
Intelectual e Múltipla programada pela APAE de São Lourenço. O tema
escolhido e debatido pela Federação Nacional das APAES (Fenapaes) para
ser trabalhado nas mais duas mil instituições espalhadas por todo país
foi “O Futuro se faz com a conscientização das Diferenças”.
“O preconceito vem quando não entendemos as necessidades e dificuldades
das outras pessoas. Quando fizemos a proposta de privar as pessoas da
visão foi para que elas entendessem o que passa uma Pessoa com
Deficiência Visual e, dessa forma, causar uma reflexão para todos os
tipos de deficiências. Quando entendemos essas dificuldades e
necessidades, a diferença passa a ser um mero detalhe”, explicou Eduardo
Gonçalves, presidente Voluntário da APAE de São Lourenço.
Cardápio
O cardápio do Jantar às Escuras foi composto por salada, carne vermelha,
frango, legumes e macarrão ao sugo. Para a sobremesa teve gelatina e
docinhos diversos. Tudo foi servido em pratos individuais e,
visualmente, bem montados.
Os convidados só viram os pratos montados após o jantar. “Muitas vezes
consumimos a comida pela aparência que elas têm.
No cardápio escolhemos
alimentos bastante nutritivos e foram trabalhados para que os convidados
sentissem a textura e o sabor de cada um deles”, explicou Thaís
Cabizuca, nutricionista da APAE.
Deficiência Visual
Para conseguir fazer com que o jantar alcançasse plenamente o objetivo,
a APAE contou com a ajuda do ex-aluno, Diego Corrêa, que é cego.
Atualmente, com 26 anos, trabalha no Carnê do Hospital de São Lourenço e
vende móveis usados pela internet.
Segundo Diego Corrêa, a Pessoa com Deficiência Visual tem tecnologias
disponíveis que as proporcionam bastante independência, porém há regras
de convivência para inclusão dessas pessoas na sociedade.
“Ao encontrar uma pessoa que não enxerga querendo atravessar a rua,
ofereça ajuda.
A comunicação é feita de maneira normal, porém é preciso
tocar no ombro para dirigir-se a ela. Avisar quando chegar ou sair de um
lugar, entre outras”, finalizou Diego Correa.
Assessoria de Comunicação Voluntária da APAE São Lourenço