Junho de 1992. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que passaria à história conhecida como Eco-92, discutia no Rio de Janeiro medidas ambientais para tentar salvar o planeta. Bem longe de lá, no Norte de Minas, indiferente ao debate que mobilizava ou opunha governos de todo o planeta, Laurimar de Jesus, pequeno produtor na região de Pandeiros, município de Januária, avançava sobre o cerrado e torrava mata nativa para produzir carvão. Duas décadas depois, quando chefes de Estado e ambientalistas preparam-se para nova reunião a fim de traçar um balanço de esforços e fracassos ambientais na chamada Rio+20, Laurimar tornou-se um conservacionista que colabora com a preservação do chamado berçário do Rio São Francisco.


Ele é retrato local do lado verde mineiro, a parcela do estado que nos últimos 20 anos buscou – e encontrou – caminhos para o desenvolvimento sem agredir o planeta. É a parte do território em que brotaram iniciativas como a Bolsa Verde, que compensa proprietários rurais que preservam mata nativa, ou como o carvão ecológico, produzido por agricultores como José do Carmo Costa Macedo a partir do coco de babaçu. Mas, ao lado desta que poderia ser classificada como a Minas 20, convive aquela porção que perdeu desde 1992, ano após ano, oportunidades de descobrir ou aperfeiçoar métodos sustentáveis para a exploração dos recursos naturais. A Minas -20 é um estado que paga caro por suas maiores riquezas: a abundância de recursos minerais e de terras férteis, que frutificam em enorme diversidade de produtos agropecuários, mas onde ficam as cicatrizes da mineração predatória, da contaminação por agrotóxicos e do enorme consumo de água para atividades produtivas. É também o lugar onde seres humanos continuam disputando com urubus sobras lançadas a céu aberto em 278 lixões que poluem o meio ambiente e a dignidade pelas Gerais afora.

A poucos dias da conferência mundial no Rio de Janeiro, entre os dias 20 e 22, olhar para o território mineiro é descobrir uma extensa agenda de desafios em relação ao meio ambiente. No evento que marca a renovação e revisão das políticas firmadas há 20 anos na Eco-92, o planeta discutirá a economia verde no contexto do desenvolvimento ambientalmente correto, erradicação da pobreza e estrutura para o desenvolvimento sustentável.

Em Minas, paradoxalmente, a maior dificuldade em atingir essas metas se deve exatamente às grandes riquezas naturais e a uma economia dependente da exploração desses tesouros. Para o ambientalista Marcus Vinícius Polignano, coordenador do projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o estado enriquece com a mineração, o agronegócio e a ocupação desordenada das cidades, à custa do desequilíbrio ambiental. “O maior sinalizador desse modelo de dominação da natureza são os recursos hídricos. As águas de Minas recebem tudo o que produzimos no seu entorno. Nossas bacias estão comprometidas em qualidade e biodiversidade. É a agonia e a morte lenta dos rios mineiros.”

A situação dos mananciais em um estado que já foi chamado de caixa d’água do país é também preocupação para o especialista em sustentabilidade e crescimento econômico, reciclagem ambiental e gestão ambiental de reservatórios, o professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Ricardo Motta. Ele cita o agronegócio, principal atividade no Triângulo Mineiro, e faz um alerta sobre o consumo excessivo de água na pecuária extensiva. “Os produtores do setor precisam investir em reciclagem da água. A aquacultura já é realidade em outras regiões do país, como Goiás e Bahia. A pecuária é um grande emissor de carbono e o consumo excessivo de carne poderia ser substituído pelo consumo de pescado”, aponta.

“Também somos o estado com maior potencial em algumas das principais commodities agropecuárias, como soja, laranja e aves, sem nenhum tipo de sustentabilidade. É preciso respeitar os limites ambientais também nessa potência agrícola”, destaca. O professor lembra ainda que a exploração de produtos primários, como celulose, minério e energia, que tem peso significativo na economia mineira, é altamente impactante para o meio ambiente. “São atividades importantíssimas, sim, mas deixam de avançar pela falta de comprometimento. Não basta receber selo de ISO 14.000 ou apenas respeitar a legislação, é preciso usar fontes de energia limpa, e nós temos esse potencial.”

O especialista lembra que Minas Gerais tem o maior consumo de água para geração de energia no país, e alerta que é um mito tratar as hidrelétricas como fontes limpas. Para ele, a reforma do setor elétrico é fundamental. São Paulo, exemplifica, já aproveita e exporta energia do bagaço da cana-de-açúcar. De acordo com o professor, Minas não explora sequer seu potencial eólico (energia gerada a partir do vento), ao contrário do que já se observa no Nordeste e no Sul do Brasil. “Precisamos incentivar o gás natural, os parques eólicos e a energia de biomassa, como Mato Grosso e São Paulo já fazem com a cana. Minas trata seu parque eólico como uma grande brincadeira, porque não aproveita o potencial que passa por Diamantina e o Norte da Serra do Cipó.” “É hora de mudar de atitude”, decreta o especialista.
 
Fonte: Noticiarama

AS CONQUISTAS DE MINAS NA ÁREA AMBIENTAL E OS DESAFIOS A SEREM DISCUTIDOS NA RIO + 20

Junho de 1992. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que passaria à história conhecida como Eco-92, discutia no Rio de Janeiro medidas ambientais para tentar salvar o planeta. Bem longe de lá, no Norte de Minas, indiferente ao debate que mobilizava ou opunha governos de todo o planeta, Laurimar de Jesus, pequeno produtor na região de Pandeiros, município de Januária, avançava sobre o cerrado e torrava mata nativa para produzir carvão. Duas décadas depois, quando chefes de Estado e ambientalistas preparam-se para nova reunião a fim de traçar um balanço de esforços e fracassos ambientais na chamada Rio+20, Laurimar tornou-se um conservacionista que colabora com a preservação do chamado berçário do Rio São Francisco.


Ele é retrato local do lado verde mineiro, a parcela do estado que nos últimos 20 anos buscou – e encontrou – caminhos para o desenvolvimento sem agredir o planeta. É a parte do território em que brotaram iniciativas como a Bolsa Verde, que compensa proprietários rurais que preservam mata nativa, ou como o carvão ecológico, produzido por agricultores como José do Carmo Costa Macedo a partir do coco de babaçu. Mas, ao lado desta que poderia ser classificada como a Minas 20, convive aquela porção que perdeu desde 1992, ano após ano, oportunidades de descobrir ou aperfeiçoar métodos sustentáveis para a exploração dos recursos naturais. A Minas -20 é um estado que paga caro por suas maiores riquezas: a abundância de recursos minerais e de terras férteis, que frutificam em enorme diversidade de produtos agropecuários, mas onde ficam as cicatrizes da mineração predatória, da contaminação por agrotóxicos e do enorme consumo de água para atividades produtivas. É também o lugar onde seres humanos continuam disputando com urubus sobras lançadas a céu aberto em 278 lixões que poluem o meio ambiente e a dignidade pelas Gerais afora.

A poucos dias da conferência mundial no Rio de Janeiro, entre os dias 20 e 22, olhar para o território mineiro é descobrir uma extensa agenda de desafios em relação ao meio ambiente. No evento que marca a renovação e revisão das políticas firmadas há 20 anos na Eco-92, o planeta discutirá a economia verde no contexto do desenvolvimento ambientalmente correto, erradicação da pobreza e estrutura para o desenvolvimento sustentável.

Em Minas, paradoxalmente, a maior dificuldade em atingir essas metas se deve exatamente às grandes riquezas naturais e a uma economia dependente da exploração desses tesouros. Para o ambientalista Marcus Vinícius Polignano, coordenador do projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o estado enriquece com a mineração, o agronegócio e a ocupação desordenada das cidades, à custa do desequilíbrio ambiental. “O maior sinalizador desse modelo de dominação da natureza são os recursos hídricos. As águas de Minas recebem tudo o que produzimos no seu entorno. Nossas bacias estão comprometidas em qualidade e biodiversidade. É a agonia e a morte lenta dos rios mineiros.”

A situação dos mananciais em um estado que já foi chamado de caixa d’água do país é também preocupação para o especialista em sustentabilidade e crescimento econômico, reciclagem ambiental e gestão ambiental de reservatórios, o professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Ricardo Motta. Ele cita o agronegócio, principal atividade no Triângulo Mineiro, e faz um alerta sobre o consumo excessivo de água na pecuária extensiva. “Os produtores do setor precisam investir em reciclagem da água. A aquacultura já é realidade em outras regiões do país, como Goiás e Bahia. A pecuária é um grande emissor de carbono e o consumo excessivo de carne poderia ser substituído pelo consumo de pescado”, aponta.

“Também somos o estado com maior potencial em algumas das principais commodities agropecuárias, como soja, laranja e aves, sem nenhum tipo de sustentabilidade. É preciso respeitar os limites ambientais também nessa potência agrícola”, destaca. O professor lembra ainda que a exploração de produtos primários, como celulose, minério e energia, que tem peso significativo na economia mineira, é altamente impactante para o meio ambiente. “São atividades importantíssimas, sim, mas deixam de avançar pela falta de comprometimento. Não basta receber selo de ISO 14.000 ou apenas respeitar a legislação, é preciso usar fontes de energia limpa, e nós temos esse potencial.”

O especialista lembra que Minas Gerais tem o maior consumo de água para geração de energia no país, e alerta que é um mito tratar as hidrelétricas como fontes limpas. Para ele, a reforma do setor elétrico é fundamental. São Paulo, exemplifica, já aproveita e exporta energia do bagaço da cana-de-açúcar. De acordo com o professor, Minas não explora sequer seu potencial eólico (energia gerada a partir do vento), ao contrário do que já se observa no Nordeste e no Sul do Brasil. “Precisamos incentivar o gás natural, os parques eólicos e a energia de biomassa, como Mato Grosso e São Paulo já fazem com a cana. Minas trata seu parque eólico como uma grande brincadeira, porque não aproveita o potencial que passa por Diamantina e o Norte da Serra do Cipó.” “É hora de mudar de atitude”, decreta o especialista.
 
Fonte: Noticiarama