Quando estava do ensino fundamental, gastava horas imaginando como seria fazer parte de um livro de história, qual seria a sensação de ser tão importante a ponto de ocupar a manchete de um jornal. Neste domingo, descobri que é horrível.


Estava eu fazendo o vestibular quando me deparei com um texto sobre Claudia. Brasileira, oito filhos (quatro biológicos e quatro sobrinhos), assalariada, moradora de uma comunidade. Estarrecedor, nefando, inominável, infame, grotesco, bárbaro. Baleada, posta em um porta-mala, arrasta pelo asfalto até a morte. A autora tinha razão, é melhor gastarmos os adjetivos no começo já que eles não conseguem expressar os sentimentos. Não há léxico suficiente para expressar este episodio.


A cada linha que lia, percebia como a morte dela foi esvaziada de sentido. As análises jornalísticas sao frias, distantes. Ela foi reduzida a um número, ou parte dele. Sua morte serviu apenas para agregar o quadro de mortes brutais.


O porta-mala abriu e escancarou o fato que já era cruel e ilegítimo. O numero de homicídios no Brasil supera o do Irã. A vida de homens e mulheres são tiradas brutalmente todos os dias. Mortes aplainadas pela surdez da praxes.


Conforme lia, perguntei- me não mais como seria estampar a manchete, mas sim como seria ser filho da manchete.


Ela tinha 8 filhos. E estou certa de que todos gostavam mais do anonimato. Não que eles sejam famosos. Ser filho de uma vítima é o tipo de notoriedade que não acrescenta nada. Eles perderam a mãe, a paz, a família. Não foram indenizados, e mesmo que fossem, se a tristeza não cabe em palavras, quem dirá em notas.


Se um dos filhos estivessem fazendo aquela prova, ao vir sua mãe sendo a história, seria reviver a dor. Seria entrar naquele porta mala e ser arrastado.

Bárbaro, grotesco, nefando.


Lembro- me dos desenhos espalhados na calçada, dos poemas, das frases, das orações, das manifestações.

Lembro de tudo que foi feito.


E, como, não há jeito do ato ser desfeito.

Eu que não tenho nenhum poder, infelizmente só posso conceder meu minuto de silêncio, uma vida de luta, e mais nada.

Carolina Souza / Rio de Janeiro


COLUNA OPINIÃO: O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Quando estava do ensino fundamental, gastava horas imaginando como seria fazer parte de um livro de história, qual seria a sensação de ser tão importante a ponto de ocupar a manchete de um jornal. Neste domingo, descobri que é horrível.


Estava eu fazendo o vestibular quando me deparei com um texto sobre Claudia. Brasileira, oito filhos (quatro biológicos e quatro sobrinhos), assalariada, moradora de uma comunidade. Estarrecedor, nefando, inominável, infame, grotesco, bárbaro. Baleada, posta em um porta-mala, arrasta pelo asfalto até a morte. A autora tinha razão, é melhor gastarmos os adjetivos no começo já que eles não conseguem expressar os sentimentos. Não há léxico suficiente para expressar este episodio.


A cada linha que lia, percebia como a morte dela foi esvaziada de sentido. As análises jornalísticas sao frias, distantes. Ela foi reduzida a um número, ou parte dele. Sua morte serviu apenas para agregar o quadro de mortes brutais.


O porta-mala abriu e escancarou o fato que já era cruel e ilegítimo. O numero de homicídios no Brasil supera o do Irã. A vida de homens e mulheres são tiradas brutalmente todos os dias. Mortes aplainadas pela surdez da praxes.


Conforme lia, perguntei- me não mais como seria estampar a manchete, mas sim como seria ser filho da manchete.


Ela tinha 8 filhos. E estou certa de que todos gostavam mais do anonimato. Não que eles sejam famosos. Ser filho de uma vítima é o tipo de notoriedade que não acrescenta nada. Eles perderam a mãe, a paz, a família. Não foram indenizados, e mesmo que fossem, se a tristeza não cabe em palavras, quem dirá em notas.


Se um dos filhos estivessem fazendo aquela prova, ao vir sua mãe sendo a história, seria reviver a dor. Seria entrar naquele porta mala e ser arrastado.

Bárbaro, grotesco, nefando.


Lembro- me dos desenhos espalhados na calçada, dos poemas, das frases, das orações, das manifestações.

Lembro de tudo que foi feito.


E, como, não há jeito do ato ser desfeito.

Eu que não tenho nenhum poder, infelizmente só posso conceder meu minuto de silêncio, uma vida de luta, e mais nada.

Carolina Souza / Rio de Janeiro